terça-feira, 10 de junho de 2014

Romantismo no século XXI

Por razões que desconheço, existem almas que insistam que eu aqui escreva. Mesmo por vezes quando algo está bem. Não é esse o caso, obviamente, e se for não estaremos a falar da minha vida. Não é que seja infeliz, mas completamente insaciável, quase como poço sem fundo que devora toda a material e imaterialidade. Não temo, já que supostamente toda a humanidade assim o é. Mas não me posso congratular com a máxima '' se não consegues vencê-los, junta-te a eles ''. Juntar-me a quem? A mentes vazias controladas pelo conceptualismo de todo o sistema? Num consumismo cego de bens e uma constante necessidade de atenção? Quase como se de bebés que finalmente largaram o bacio se tratássem.
Depois vem a boca do romântico incurável e da total e completa ingenuidade, e eu rio-me... Respondendo que por mim até seria mais ingénuo, ou mesmo ignorante já que nestas palavras parecerem assentar as qualidades essenciais da felicidade.
Dizem-me para ser mais racional, para não me deixar manipular. Para manipular quem me manipula, inverter o jogo! Ah, aí sim serei feliz, com esquemas e trocas e baldrocas, camuflagens, meias-verdades e mentiras. Não! Desculpem -me todos, ou não, mas eu não serei assim. Não engulo o meu orgulho, por umas horas bem passadas, nem me escondo para poder viver. Vivo e respiro aquilo que sou.
Por estas razões, sou levado a momentos de abandonamento intelectual, e não é a questão de pensar com os genitais, mas sim com aquilo que me dá tanto quanto me tira, ou por outras palavras o coração.
Fantasmas, de diferentes tempos, vão e ficam assombrando-me quando menos espero. Basta um cheiro, uma cor, um sabor e lá estou eu. Fico perplexo, como de repente tudo se desenrola na minha cabeça como um filme, por norma a preto e branco, não estivéssemos nós a falar de fantasmas. E mais uma vez lá estou eu perdido na minha cabeça, perdido noutro espaço cronológico, noutro momento e as emoções que apenas existiram no passado, misturam-se com o fumo que jaz na minha sala e com as insónias que não tendo a certeza que vêm, já se encontram escondidas por trás do sofá.
Meu Deus! Que flor de estufa, pensava ser um homem, e um homem não teme estas coisas, apenas as empurra para debaixo do tapete, desenrolando-se este muitas vezes numa crise de meia idade. Mas enfim, infelizmente na minha cabana cognitiva não existem tapetes, o chão é de madeira e qualquer lixo que haja deve ser limpo prontamente, para que o trânsito seja mais fácil. Mas os fantasmas, esses não conseguem ser limpos pela vassoura. Nem pelo aspirador, de cor esmalte, proveniente de uma qualquer destilaria na Escócia Oriental . Não, esses subsistem mesmo quando fecho a cabana às chaves por umas horas de merecido descanso. Aparecem sem ser convidados, deixando um trabalho herculiano ao segurança inexistente, abrem gavetas, partem cadeiras, espalham tudo no chão e desaparecem até quando lhes aprouver...
De todo o modo vou vivendo, aprendendo a lidar com eles, arrumando tudo de volta nas gavetas, varrendo o chão e fingindo que ninguém conseguiu entrar. Pois no final de contas, é melhor ter a cabana arrumada e um sorriso falso esboçado no rosto, do que sucumbir aos monstros que vão entrando e saíndo. Ou não é isto o romantismo do século XXI?

Nenhum comentário:

Postar um comentário